Etica: O homem do Baú ou obaú de outros homens?
"Pobre é o melhor pagador do mundo. É humilde, é correto"
Silvio Santos
O Brasil já está acostumado com as notícias de falcatruas e falências de bancos. De bancos, não de seus donos. Isso, até a semana passada, quando veio à tona o caso do banco PanAmericano, do homem do Baú, Silvio Santos, que colocou todo o seu patrimônio como garantia de um empréstimo para cobrir o rombo de 2,5 bilhões de reais.
"Atuo no sistema financeiro há 50 anos e nunca vi nada parecido. Um empresário financeiro entregar seu patrimônio para evitar uma liquidação. Em geral eles fazem o oposto, uma blindagem. Foi um comportamento exemplar", disse Gabriel Jorge Ferreira, presidente do conselho de administração do FGC.
Na verdade, Silvio Santos não precisava fazer o que fez. O papel do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é assegurar os investimentos feitos em bancos liquidados, este valor é de 60 mil por pessoa, o que, segundo os analistas de mercado daria cerca de dois bilhões. Ou seja, este valor sairia, de qualquer maneira, dos cofres do FGC como fundo perdido.
Sílvio Santos está, literalmente, esvaziando o seu Baú, construído ao longo de seus quase 80 anos de vida. Ao contrário de Edemar Cid Ferreira, (Banco Santos) e Daniel Dantas, (Banco Opportunity), só para citar alguns que fizeram a tal blindagem e saíram ricos e, por que não? Famosos. O que você faria, blindaria seu Baú ou o colocaria em risco?
Daniel Dantas é famoso por suas aparições nas páginas policiais, entre outros de seus crimes estão os de gestão fraudulenta, formação de quadrilha, financiador do Mensalão, etc. Seu banco foi liquidado em 2001, mas Dantas continua rico e, claro, famoso. O Banco Santos, liquidado em 2005, expôs histórias interessantes, como a transação um dia antes do rombo, o cliente beneficiado era José Sarney. Como Dantas, Edemar está milionário, o acervo de arte que ele mantinha em sua suntuosa mansão foi recambiado não se sabe para onde. Mas, você sabe de onde veio o dinheiro para cobrir o rombo?
Os prejuízos de gestões fraudulentas em geral são assumidos, em última instância, pelo Tesouro Nacional. Hoje o balanço de BC ainda registra créditos contra bancos sob liquidação da ordem de R$ 50 bilhões, decorrentes do programa de reestruturação do sistema bancário, o Proer. Em bom português, quem paga a conta somos nós, eu, você e todos que pagam impostos, e não é só o de renda, mas aquele que incide sobre a comida, que no caso do arroz e feijão representa mais de 25%.
Na edição de domingo, 14 de novembro, o jornal Folha de São Paulo noticiou que os advogados de Sílvio Santos solicitaram à justiça o bloqueio dos bens dos diretores do PanAmericano, suspeitos de blindagem de seus bens, ao trasferí-los para parentes e laranjas, e, com isso "apunhalar o patrão pelas costas", como disse ele mesmo ao tornar pública a maracutaia. Ainda é muito cedo para falar sobre os desdobramentos do caso e das responsabilidades. Mas o comportamento dos diretores é semelhante ao de Dantas, Cid Ferreira e, para sair do cenário bancário, vale lembrar os empresários Edmar Moreira, o deputado do castelo em Minas e Sério Naya, aquele do desabamento do edifício Pallace II, no Rio de Janeiro, em 1998. Naya Morreu em 2009, sem que muitas das vitimas do desabamento fossem indenizadas. O homem do castelo sumiu da mídia, tal qual o dinheiro que ele surrupiou, você viu?
Dantas, Cid Ferreira, Naya e Cia ficaram pobres, seus patrimônios foram utilizados para pagar suas dívidas? Não. Então, o que leva Sílvio Santos a colocar seu Baú na berlinda?
Acredito que seja uma coisa chamada valor. Valor é um princípio moral que, neste caso, pode ser denominado de honestidade, que está expresso na frase "Pobre é o melhor pagador do mundo. É humilde, é correto", dita por Silvio Santos numa de suas raras entrevista. Ele, Silvio, era pobre. Enriqueceu, ficou famoso, mas, pelo que parece, manteve o maior dos patrimônios, o valor da consciência do bem, valores elevados, moral ilibada.
Uma ótima receita para quem é banqueiro, camelô, apenas um pobre cidadão brasileiro e, quiçá dos homens públicos.
Que o Baú continue sendo da felicidade. Mas que o povo brasileiro tenha, além da humildade, certo quê de maldade e sabedoria para saber pressionar nossos poderes constituídos para que usem os valores morais como moeda para erradicar os valores que saem, furtivamente, dos baús de outros homens, para calar aqueles que deveriam fazer valer as leis e honrar os direitos, a começar pelo de igualdade entre os cidadãos.